quarta-feira, 25 de julho de 2012

Antes de subir as escadas, esmaguei o cigarro com o bico do meu sapato; era respeito à memória dela. Emburrecia… avermelhava quando alguém entrava fumando pelos cantos da casa. Mas não dizia - era um doce -, apenas cochichava comigo aos cantos: “olhe só, este imbecil… fumando aqui”… era bondosa demais para botar o dedo na cara do homem!, eu sei que não teria nenhum dedo no meu rosto. Mas apaguei o cigarro mesmo assim. O respeito funcionava com os póstumos. Subi as escadas feito felino: não só pelo cansaço, que prevalecia; também para não fazer barulho. Já era noite, e, neste horário, ela estaria dormindo. - Mas como dorme agora, dorme tanto. Abri a porta de sua antiga casa (a nova sendo a terra que piso), hesitei em acender a luz. Mas tinha de ver. Os móveis enfestados com a poeira; passava a mão neles, a poeira prendia-se nos meus dedos… eu fazia uma rota para as formigas na mesa: uma rota aonde passei o dedo. Olhei abobado para o lustre, o tapete que pisava, a torneira que pingava. Tudo fermentava uma saudade, todavia uma leve impressão de que ela estava melhor. Entrei em seu quarto, outrora preenchido de falta de pudores!, o quarto ainda cheirava ao mês passado. Fucei a gaveta de calcinhas, lá estava: o brinco que havia dado a ela. Coloquei-o no bolso; não extraviava. Olhei para as paredes, como se alguém pudesse me ver, de longe… tem saudades que custam caro. Caro quanto um brinco de diamante. Deixei o apartamento em poeira e prantos. Acendi o cigarro, novamente.

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